PT — LARRY ROMANOFF — As Cidades mais Seguras do Mundo — Agosto 02, 2021

As Cidades mais Seguras do Mundo

Por Larry Romanoff, December 02, 2019

Traduzido em exclusivo para PRAVDA PT 

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Há ocasiões em que os americanos querem publicar uma lista que demonstra a sua superioridade moral inata sobre o resto do mundo, mas hesitam, porque as mentiras são demasiado flagrantes mesmo para eles e expô-los-iam a um ridículo sem limites.

Nesses casos, têm um amigo que faz o trabalho por eles, dependendo de uma referência de terceiros altamente considerada, numa tentativa de tornar a hipocrisia mais palpável. Nesta ocasião, requisitaram os serviços da chamada “Intelligence Unit” da revista The Economist para produzir uma lista das cidades mais seguras do mundo. Os resultados iriam surpreendê-lo, por mencionar lugares como Chicago, Washington, Nova Iorque e Los Angeles, colocadas mesmo lá em cima, perto do topo. (1)

 

No mínimo, a metodologia foi inovadora. Para a maioria de nós, uma cidade segura é uma cidade onde nos sentimos seguros; o que significa segurança pessoal, com pouca ou nenhuma probabilidade de experimentar os acontecimentos normais da vida diária na América, que incluiriam sermos assaltados, mortos, violados, esfaqueados, incriminados pelo FBI, ou mortos a tiro pela polícia.

Mas as cidades americanas não podem competir nestas métricas, pelo que, com a ajuda dos seus amigos no Reino Unido, conceberam novas métricas em quatro categorias, nomeadamente em segurança digital, segurança sanitária, segurança das infraestruturas e segurança pessoal, cada uma delas com 25% do total da classificação. Assim, ser atingido pela polícia em Nova Iorque ou apunhalado por um dos 400.000 assaltantes em Chicago ou em Washington, tem a mesma importância como a perda do seu cartão de crédito ou tropeçar na calçada. Vamos dar uma olhadela rápida.

A Segurança Digital relacionada com as “equipas de segurança cibernética” de uma cidade, seja o que for que isso signifique, provavelmente na medida em que a NSA está a registar tudo o que diz, e, curiosamente, a “frequência do roubo de identidade”. A propósito, sabia que Londres tem uma câmara de circuito fechado de televisão (CCTV camera) por cada seis cidadãos e que os EUA estão a seguir rapidamente na mesma direcção? A Segurança da Saúde baseou-se em dados como o número de camas hospitalares, a esperança de vida de uma nação e a incidência de cancros. Depois tivemos a Segurança das Infraestruturas, com base em elementos como a qualidade das estradas, das pontes e das barragens e o “número de mortes causadas por catástrofes naturais”. E por último, tivemos a Segurança Pessoal, com base em alguns tipos de crimes denunciados.

Então como é que as cidades americanas, especialmente as quatro enumeradas acima, poderiam aparecer perto do topo de qualquer lista de lugares seguros para se estar na Terra? Os EUA estariam provavelmente no topo da lista por espiar os seus cidadãos, sem qualquer discussão, mas “segurança cibernética”? Isto deveria ser quase uma piada. Os EUA destacam-se como sendo o líder mundial ao serem pirateados por quase toda a gente, em quase todo o lado. Os militares, a CIA, os bancos, as empresas de cartões de crédito, as empresas de informação de crédito, os retalhistas como Wal-Mart e Target, Sony Pictures, Facebook, Twitter, grandes multinacionais, estão nas notícias semanais por terem tido os seus registos pirateados mais uma vez e a informação pessoal de dezenas de milhões de americanos ter aparecido em toda a Internet. O roubo de identidade nasceu nos Estados Unidos, e em nenhum outro país lemos com tanta regularidade sobre esta ocorrência em tão grande escala. Onde poderíamos encontrar qualquer prova de segurança no reino cibernético dos EUA? Não há lugar, mas de qualquer maneira,os americanos estão no topo.

 

Segurança sanitária. Na América? O sistema de saúde dos EUA é conhecido por ser o pior do mundo, a menos que se seja rico.

O número de camas hospitalares é pouco preocupante quando todos morrem no parque de estacionamento, porque não podem pagar cuidados de saúde.

 

Os EUA têm uma das mais baixas expectativas de vida e as taxas de mortalidade infantil mais elevadas de todas as nações desenvolvidas, como também dos múltiplos países em desenvolvimento. Excepto em lugares como no Iraque, na Líbia, na Sérvia, que foram inundados com lixos radioactivos de munições de artilharia, os EUA são um dos líderes mundiais de incidência de cancros.

A segurança das infraestruturas é pior. É nos EUA – e apenas nos EUA – que as pontes estão a desmoronar-se e a cair nos rios, que sistemas rodoviários inteiros sofrem décadas de negligência e têm de ser totalmente arrancados e reconstruídos, mas que não é factível porque o país já não tem dinheiro.

É nos EUA que as barragens estão a falhar com uma regularidade assustadora, tendo havido no último ano, mais de 1.000 “acidentes com barragens”, onde uma barragem estava em perigo iminente de falhar bem como o colapso de aeroportos, de ferrovias e de outras infraestruturas, tendo a América ficado em quinto lugar em comparação com a Guatemala, Angola, Kirgizstan e Nauru. Onde está a segurança de tudo isto?

Depois tivemos a Segurança Pessoal. The Economist disse-nos que “Altos níveis de envolvimento da polícia … são fundamentais para a segurança”. Bem, na América, eles não são importantes. De facto, quanto mais elevados forem os níveis de “envolvimento da polícia” nos EUA, maior é a probabilidade de se ser morto a tiro. Ou estrangulado. E quanto aos crimes denunciados, Chicago, Washington DC, Detroit, são as capitais mundiais dos assassinatos, muitos deles originados pelas forças policiais. Todo o Lado Sul de Chicago é um lugar onde ninguém vai a menos que queira ser morto, mas esta cidade está no topo da lista do “The World’s Safest Cities”, elaborada pelo The Economist. Todo o pessoal do Economist deve ter estado a ‘snifar’ cocaína enquanto escrevia o relatório.

Mas mesmo estas métricas inovadoras exigiram ajustes e afinações para colocar qualquer cidade americana no topo dos 5.000 lugares mais seguros do mundo. Os denominados investigadores mostraram uma amostra da sua mentalidade, ao afirmar que “Ser estatisticamente seguro não é o mesmo que sentir-se seguro“. Não consigo imaginar o que estas pessoas estavam a pensar.

E isto leva-nos à China, um país conhecido pelas baixas taxas de criminalidade e níveis muito elevados de segurança pessoal. Viajei por quase todas as partes deste país, das maiores cidades às zonas rurais, quer de dia, quer durante a noite mais escura, sozinho e com companheiros e posso dizer honestamente que e 15 anos nunca tive a menor preocupação com a minha segurança pessoal e, de facto, tal pensamento nunca me passou pela cabeça.

Cidades como Shanghai e Pequim lideram o mundo em todos os aspectos, no que diz respeito à segurança pessoal. Mas a China mal apareceu em toda a longa lista e, sobretudo, apenas com a melodia de referências ranhosas como “A China tem um registo misto sobre a segurança de tudo, desde edifícios a sistemas ferroviários. Em 2011, por exemplo, um acidente ferroviário de alta velocidade em Wenzhou”. Os EUA têm centenas de acidentes ferroviários, mas estes são classificados sem qualquer menção. As infraestruturas da China são na sua maioria novas e bem mantidas, os cuidados de saúde são de alta qualidade, o país não tem falta de camas hospitalares e a esperança de vida é mais elevada do que a dos EUA, mas, de qualquer forma, é classificada como zero.

É claro que este relatório foi ridicularizado e achincalhado impiedosamente online por muitas pessoas, algumas delas perguntando “Onde posso encomendar uma porção do que a “unidade de inteligência” está a fumar?”, enquanto outras notaram que “Chicago, Los Angeles e Washington DC, as três capitais de homicídios no top 20”.

Outros escreveram simplesmente: “Que monte de lixo”.

Mas, no entanto,  devemos, dar crédito ao Economist por fazer o seu melhor para ajudar os seus amigos americanos numa altura de necessidade. Chegaram ao ponto de encorajar os americanos, dizendo-lhes que deveriam realmente sentir-se mais seguros do que eles, porque – com base nestas métricas paradoxalmente de pouco valor – estas cidades são seguras.

Mas as pessoas no Economist tiveram, pelo menos, o bom senso de perceber que muitos americanos são suficientemente ignorantes para acreditar no que lêem, e poderiam agir de acordo com essa crença até à sua morte imediata. Por isso, no final do relatório acrescentaram: “The Economist Intelligence Unit Ltd. não pode aceitar qualquer responsabilidade ou responsabilização pela confiança de qualquer pessoa neste relatório ou em qualquer das informações, opiniões ou conclusões estabelecidas no presente relatório”. Não é difícil perceber porque motivo.

Pode ser verdade que muito poucas pessoas na maioria dos países ocidentais, especialmente na América do Norte, têm qualquer compreensão do que é viver num país seguro. Aqui estão três exemplos, dois da minha experiência pessoal, o outro indicado por uma amiga.

    1. Eu estava a descer uma rua em Monte Carlo, a conversar com um polícia quando, em frente a um edifício de apartamentos de luxo, vimos um Rolls-Royce descapotável com o tecto rebatido, as chaves na ignição, o motor ligado e o que parecia ser um colar de diamantes em cima do assento. O polícia disse conhecer a proprietária do carro e, uma vez que tínhamos estado a discutir segurança, fez este breve comentário:

“Provavelmente subiu para o apartamento, esqueceu-se do carro e foi dormir. Mas quando sair de manhã, o carro ainda cá estará, com o motor ainda a trabalhar e o  colar de diamantes ainda no assento onde o deixou”.

    1. Decerta forma, a China ainda é uma sociedade que usa dinheiro vivo, tendo contornado cheques e cartões para pagamento por telemóvel, mas surpreendentemente continua a utilizar facturas para multiplas transacções de grande dimensão. Em qualquer cidade da China, vemos diariamente pessoas em fila de espera numa caixa multibanco, a aguardar pacientemente enquanto um indivíduo introduz maços enormes de notas na máquina, 10.000 RMB de cada vez e, muitas vezes, a pilha de dinheiro excedendo talvez 50.000 dólares. É uma transacção tão comum a ponto de ser completamente ignorada por todos. Em qualquer cidade da América do Norte, este procedimento é pedir um roubo de “esticão”, mas nunca ouvi falar de tal coisa na China.

    1. Uma pessoa minha conhecida estava à espera de uma amiga numa estação de comboios de Tóquio, a cerca de 100 metros do seu escritório quando se lembrou de alguns documentos importantes de que precisava. O seu escritório seria fechado dentro de poucos minutos, mas o comboio também chegaria dentro de poucos minutos. O que fazer? Num banco mesmo à saída da estação de comboios, deixou a sua mala, sabendo que a sua amiga a reconheceria e regressou ao escritório para recolher os documentos. Tinha deixado lá a sua mala – com a carteira, o passaporte, dinheiro e cartões de crédito. Quando regressou à estação, a amiga estava sentada no banco ao lado da sua bolsa, à sua espera. No Japão o roubo é desconhecido e nenhum pai se preocupa com o facto dos filhos saírem à noite, mesmo nas cidades mais destacadas.

*

A obra completa do Snr. Romanoff está traduzida em 32 idiomas e postada em mais de 150 sites de notícias e de política de origem estrangeira, em mais de 30 países, bem como em mais de 100 plataformas em inglês. Larry Romanoff, consultor administrativo e empresário aposentado, exerceu cargos executivos de responsabilidade em empresas de consultoria internacionais e foi detentor de uma empresa internacional de importação e exportação. Exerceu o cargo de Professor Visitante da Universidade Fudan de Shanghai, ministrando casos de estudo sobre assuntos internacionais a turmas avançadas de EMBA. O Snr. Romanoff reside em Shanghai e, de momento, está a escrever uma série de dez livros relacionados com a China e com o Ocidente. Contribuiu para a nova antologia de Cynthia McKinney, ‘When China Sneezes’  com o segundo capítulo, “Lidar com Demónios”.

O seu arquivo completo pode ser consultado em https://www.moonofshanghai.com/ e  https://www.bluemoonofshanghai.com/ 

Pode ser contactado através do email: 2186604556@qq.com

Note

Traduzido em exclusivo para PRAVDA PT 

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Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos

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